HENRIQUE, TOMO 2
A vida do Henrique não é fácil. Algumas pessoas mais distraídas com quem me cruzo na rua pensam que o Henrique usa um enorme brinco parecido com um porta-chaves. Compreendo-as. Sempre que saio de casa penteio o Henrique (tento dar-lhe o “1991 John Cale"), mas as fortes correntes de ar na entrada do Jumbo da Maia acabam por despenteá-lo e de novo aparece a mohawk. E assim as pessoas pensam que o Henrique é um cavalo todo maluco com um brinco todo maluco. As mais atentas. Porque já encontrei algumas bestas que não conseguem discernir um cavalo de um burro, e vai daí jorram um “Ai que burro tão giro!”.
Mas não. Não é um brinco. É um porta-chaves. E é uma cruz. Eu sei que o potro sofre ao carregar o porta-chaves. Basta ver o tamanho da chave do meu apartamento. Por isso, quando chego a casa, em solidariedade com o jovem equídeo, solto-o do porta-chaves.
Porém, por vezes acontecem estranhos eventos, como o de ontem quando encontrei o Henrique a aperfeiçoar o «Bolero de Ravel» em Dó Menor em flauta no meu sofá. Já escondi a guitarra, caso ele se lembre de tocar o «La Cucaracha» às 5 da manhã. Das
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