HIROSHIMA
Faz hoje, dia 6 de Agosto, 58 anos que explodiu em Hiroshima a bomba atómica (de Urânio) "Little Boy".
Como todos podemos imaginar, ou talvez não, para todos os habitantes de Hiroshima este foi um momento de verdadeiro horror.
Para uma grande parte foi mesmo o fim da vida, para outra grande parte deixou marcas que duraram toda a vida, muitas vezes trazendo problemas de saúde bastante complicados e, apenas para uma pequeníssima parte, foi um momento de terror "sem" consequências físicas de maior.
Gostava de partilhar convosco um pequeno texto de uma criança que viveu estes momentos tão difíceis. Chama-se Toshio Nakamura e contava apenas 10 anos na altura da explosão.
" No dia antes da bomba fui nadar. De manhâ estava a comer amendoins. Vi uma luz. Fui cair no sítio onde dormia a minha irmãzita. Quando estávamos todos salvos só consegui ver até ao eléctrico. A minha mãe e eu começamos a empacotar as nossas coisas. Os vizinhos andavam às voltas, queimados e a deitar sangue. Hataya-san disse-me para fugir com ela. Eu disse-lhe que queria esperar pela minha mãe. Fomos para o parque. Veio um tornado. À noite um tanque de gás explodiu e vi o reflexo da explosão na água. Ficamos uma noite no parque. No outro dia fomos até à ponte Taiko e encontrei as minhas namoradas Kikuki e Murakami. Andavam à procura das mães delas. Mas a mãe de Kikuki estava ferida e a mãe da Murakami, coitada, tinha morrido."
Isto é apenas um comentário sobre os acontecimentos. Um comentário de uma criança incapaz de compreender o que se passava.
Devido à brutalidade da explosão quase todos os serviços médicos ficaram desactivados. Foram os sobreviventes que escaparam quase "ilesos" (pelo menos físicamentes) que tiveram de auxiliar os mais necessitados.
O padre Kleinsorge foi um dos grande "assistentes" da população. No livro "Enola Gay" (nome do avião que lançou a bomba sobre Hiroshima), de John Hersey, há muitos relatos sobre a actividade deste padre nos momentos, e dias, seguintes à explosão.
"...no regresso (de ir buscar água a uma fonte para dar aos feridos) perdeu-se, ao fazer um desvio por causa de uma árvore caída, e quando procurava encontrar caminho através do bosque, uma voz vinda dos arbustos perguntou-lhe: «Tem alguma coisa para beber?» Enxergou um uniforme. Pensando tratar-se apenas de um soldado, aproximou-se com a água, mas depois de penetrar nos arbustos deparou-se com cerca de 20 homens, todos exactamento no mesmo estado, como se tivessem saído de um pesadelo: rosto completamente queimado, órbitas oculares vazias, tendo-lhe o fluído dos olhos liquefeitos escorrido cara abaixo. A boca não passava de uma ferida inchada e coberta de pus, que não conseguiam abrir o suficiente para beber pelo bico do bule. O padre Kleinsorge transformou um caule numa palhinha e deu de beber a todos desta maneira."
Não será este um verdadeiro herói?
Só no ataque e nas duas semanas que se seguiram morreram 150 000 pessoas e ficaram feridas mais de 80 000.
O número oficial de vítimas (em 1994) era de 186 940.
92% dos edifícios ficaram parcial ou completamente destruidos.
Os filhos do hibakhusa (nome pelo qual ficaram conhecidos os sobreviventes) também padecem de severos problemas de saúde, legado das radiações apanhadas pelos pais.
E eu agora pergunto: « Será que valeu a pena?» «Será que a "guerra" que levou a isto não era fruto de uma "birrice" política?» «Será que não havia outra solução que não fizesse sofrer tanta gente?»
Enfim...
Indignadas Saudações Pirilampásticas
LP
quarta-feira, agosto 06, 2003
Publicada por Lampimampi às 15:09
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